quinta-feira, 16 de outubro de 2008

COMUNICADO

Na sequência da sondagem levada a cabo recentemente, informa-se que o próximo número se subordinará ao tema de capa: “ESTAREMOS SÓS NO UNIVERSO?”

O assunto pode – e deve – ser objecto de um tratamento múltiplo e diversificado, pelo que os contributos, abertos à colaboração livre, são passíveis de abarcar vários géneros jornalísticos (notícia, reportagem, crónica e entrevista), assim como contemplar o recurso à imagem (fotografia, banda desenhada, etc.)

Solicita-se que todos os trabalhos, devidamente revistos pelos professores, sejam entregues até ao dia 28 (vinte e oito) de Novembro, (i) em suporte informático e (ii) com uma extensão nunca superior a uma página A4, o que pode ser:

· efectuado por correio electrónico (jornaldosarcos@gmail.com);

· enviado em linha a partir do blogue do «Jornal dos Arcos»;

· por interposta pessoa (DT, Professor de Português ou outro);

· pelo modo que achem mais expedito.

A equipa dinamizadora do jornal escolar agradece, desde já, a participação de todos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O MELHOR DO «JORNAL DOS ARCOS» [III]

HERÓIS DE MÁRMORE

Arquíloco, poeta grego do século VII a. C. escreveu o seguinte: “Algum Saio se ufana agora com o meu escudo, arma excelente, / que deixei ficar, bem contra a vontade, num matagal. / Mas salvei a vida. Que me importa aquele escudo? / Deixá-lo! Hei-de comprar outro que não seja pior” (trad. de Maria Helena da Rocha Pereira em Hélade). A verdadeira sabedoria é intemporal e, se quem foge é valente, haverá homem mais heróico do que Arquíloco? Não será que herói é aquele que não consegue fugir a tempo?

Eu, por pouco, não conseguia fugir a tempo e ainda fiz a Escola Primária antes do 25 de Abril, o que me valeu uma razoável intoxicação ideológica, pois, naquele tempo, a História era um repositório de super-heróis que derrotavam sozinhos castelhanos aos magotes ou de surfistas prateados que carregavam no ombro másculo caravelas por mares convenientemente nunca dantes navegados.

Hipnotizado que estava por este olimpo povoado de gamas, cabrais e camões, caiu-me em cima a bendita Revolução e assisti escandalizado à degradação daqueles indivíduos formidáveis, passando a História a ser protagonizada por um povo carregado de sentido histórico, numa luta de classes que, ao que parece, ainda dura.

Entretanto, surgiam-me outros heróis de calções e chuteiras. Logo aí, comecei a sentir-me diferente: o meu ídolo era um jogador chamado Nené, goleador fino, frio, eficiente, que raramente sujava os calções e que, por esta razão, era frequentemente vaiado pelo povo benfiquista, crente de que não há verdadeira paixão sem a mancha esverdeada da lama.

Mas o que será, então, um herói? Na minha opinião, é um objecto da nossa paixão, com tudo o que isso implica de cegueira e de fé, posters na parede ou fotografias no caderno diário. O herói habita torres cuja base toca a terra, mas está no alto e raramente vem à janela. Cheirar o hálito do herói será um momento verdadeiro mas inverosímil, uma experiência mística alienante, como as das meninas americanas que foram esperar os Beatles ao aeroporto.

Se isto é um herói, tenho que confessar que há muito que não tenho nenhum, mas nem por isso vivo mais triste ou aprecio menos a História. Acredito, simplesmente, que o herói não é um pedaço gigantesco de mármore, mas um homem que, condenado ao vício, incomodado por problemas intestinais e empurrado pelos desejos mais baixos, consegue feitos extraordinários. Os homens devem ser compreendidos na sua humanidade e não adorados até à incompreensão. O herói pode ser Arquíloco a confessar a sua cobardia ou o Fernão Veloso de “Os Lusíadas” a fugir (a tempo) dos indígenas. Entre um herói intocável e um ser humano que me toque não hesito: ao mármore prefiro sempre a pele, que combina melhor com a minha perenidade.

Fernando Nabais

(Texto Publicado em JUNHO DE 2007,

in «Jornal dos Arcos», N.º 5, pág. 9.)

terça-feira, 3 de junho de 2008

O MELHOR DO «JORNAL DOS ARCOS» [II]

O MUNDO DE BLOG

Como cogumelos cujas raízes se estendessem por quilómetros subterrâneos, janelas desproporcionadas publicitavam de tudo um nada, iluminando o mundo eléctrico do computador de Blog com a prodigalidade dos bits e bytes que sinalizavam o caminho universalmente aceite. O ecrã florescia em últimas novidades e actualizações. Não se lhes impunha a necessidade de perguntar a Blog se queria prosseguir: a predeterminação das hiperligações impedia o livre‑arbítrio e a navegação automática abria cada pequeno mundo privado à curiosidade do visitante virtual. “Bem-vindo!”: sorria-se a página inicial. “É bom partilhar contigo este meu veículo de opinião! Porque não te deténs e lês em mim? Tenho tanto para te dizer!” Cada sítio rivalizava com o próximo na originalidade da apresentação, a escolha mais sedutora avolumava-se por sobre o merecimento de ser a sua a melhor estratégia para cativar o presuntivo leitor. A cada dia, novos pequenos mundos acotovelavam-se por um lugar ao blogue. Era fundamental que fosse encontrada a característica de dominação, a imagem arisca e necessária que lhes consentisse o impulso para sair do limo do anonimato onde pululava esforçadamente a maioria dos recém‑chegados. Ávidos de reconhecimento, atavam-se uns aos outros no nó cego de se desenovelarem pelo dédalo, mas nesse mundo fantástico a primeira lei da natureza aplicava-se sem piedade contra os mais inábeis na arte de conquistar espaço vital.

Agora que o seu nome se tornara palavra constante nos motores de busca, Blog usava com parcimónia os chamarizes que o tinham feito mago das palavras electrónicas. Discípulos entusiasmados passavam a outros a palavra de Blog, e a página de Blog amadurecia na velocidade do tráfego. Nos primórdios desse seu reinado, Blog seguira pensativamente o número, já astronómico!, que o medidor registava a cada entrada no seu domicílio virtual. Entusiasmara-se sobretudo com os comentários escritos por desconhecidos e que lhe traziam o retorno da voz que fazia falar por si. Demorava‑se neles com a alegria da água ao reconhecer ter encontrado a sede. Perscrutava cada vocábulo com o afã adolescente de ver-se no olhar de outrem. Elogiosos, até em demasia, eram o cordão que o ligava ao outro lado do pequeno mundo… como se fora suficiente estender a mão sobre o ecrã para tocar a alma de quem o lia.

E, contudo, Blog sabia que muito mais do que milhares de fios entrecruzados o dividiam dos seus leitores. O murmúrio da corrente fixa da máquina era apenas um odioso recado dessa distância. O que deveras incomodava Blog era a percepção aguda de que a palavra viva, que se desenrola entre a língua mental de quem a diz e os ouvidos do espírito de quem a toma, não tinha lugar no ruído, ausente de tempo e reflexão, da palavra escrita na luz. Que sabe o teclado, frio desse fogo, do grito das gaivotas das palavras, se mais não conhece do que o som surdo do voo das teclas? Como dizer à ligeireza impessoal de uma página anónima sobre outra que há um invisível mundo maior dentro da visibilidade do pequeno mundo? Que lugar o do leitor à procura da palavra excepcional se era a regra a mediocridade da superabundância de escritos?

Não se passara um dia desde o primeiro édito em que a Blog não apetecesse ser, de novo, oculto.

E foi por tudo isso que, nesse dia, os internautas seguidores de Blog encontraram a porta cerrada.


Helena Maia

(Texto Publicado em MARÇO DE 2007,

in «Jornal dos Arcos», N.º 4, pág. 8.)

quarta-feira, 12 de março de 2008

AOS COLABORADORES [I]


COMUNICADO

O tema de capa do sétimo número do “Jornal dos Arcos” será o seguinte: O FUTURO DA EUROPA.

O tema pode ser objecto de um tratamento múltiplo e diversificado. É desejável que os alunos explorem vários géneros jornalísticos: notícia, reportagem, crónica e entrevista. O recurso à imagem é igualmente fundamental, seja ela a fotografia ou a banda desenhada. O jornal também está aberto à colaboração livre.

Todos os trabalhos discentes, devidamente revistos pelos professores, devem ser entregues até ao dia 24 (vinte e quatro) de Abril, tendo eles necessariamente de possuir (i) suporte informático e (ii) extensão nunca superior a uma página A4. Disponibilizam-se disquetes para o efeito, pelo que os alunos interessados poderão levantá-las na Biblioteca, local de entrega das mesmas.

Todavia, quem queira utilizar o correio electrónico deve fazê‑lo enviando a sua colaboração para o seguinte endereço: jornaldosarcos@gmail.com.

A equipa dinamizadora do jornal escolar agradece, desde já, a participação de todos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O MELHOR DO «JORNAL DOS ARCOS» [I]

Por favor, não gostes de mim!


Pero eu dixe, mia senhor,

Que non atendia per ren

De vós bem, pólo grand’amor

Que vos sempr’ouvi al m’end’aven:

U vej’est’ar cuido no al,

Perque sempr’ouvi por vis mal

Per esso me fezestes bem.

Sempre levar assaz d’afan

por vós, mia senhor, e por én,

pois outro bem de vós de pran

non ouve, senhor, a meu sén,

sequer por quanto vos servi,

daqueste cuid’eu de min

que me tolhades vós én

Nada, senhor, mentr’eu viver;

e se vus conveer d’alguen

dissesse com’eu já perder

tal bem non posso que me vén

de vós, terredes, [eu] bem sei,

que non devia, poilo ei

per vós, a teel’en desden.


Afonso Sanches




Este texto de Afonso Sanches é uma “cantiga de amor”, um dos géneros cultivados pelos trovadores medievais. Neste tipo de cantigas, podemos ouvir, habitualmente, uma voz masculina a versar, em vários tons, o amor que sente por uma mulher.

No texto citado, o poeta dirige-se à própria amada, designada, no v. 1, por “mia senhor”, ou seja, “minha senhora”. Os ouvidos menos habituados à linguagem dos trovadores poderão estranhar que uma mulher seja “senhor”, mas a palavra em causa, herdada da terminologia feudal, era, então, uniforme.

O poeta diz que não espera “ben” da senhora (vv.2-3). Este termo designa, muitas vezes, no género vertente, algo que a senhora deverá conceder ao trovador que se coloca ao seu serviço. A partir daqui, o poeta vai jogar com vários significados da palavra, revelando uma mestria que dificulta a compreensão do texto. Assim, afirma que sempre sofreu por causa da senhora (v. 6) e que, por isso, ela sempre lhe trouxe felicidade (v. 7). Confuso? Claro!

O resto do texto continua a desenvolver esta ideia, com o poeta a pedir à senhora que não o prive do sofrimento. Como pode a infelicidade ser positiva? Pelo facto de ter como causa a amada. Deste modo, tudo o que derive de uma tal mulher será sempre bom, mesmo que seja mau. Ou ainda: mesmo que a senhora só lhe dê desprezo, estará a dar-lhe alguma coisa, o que já não é mau.


Fernando Nabais

(Texto Publicado em JANEIRO DE 2006,

in «Jornal dos Arcos», N.º 1, pág. 8.)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

AOS LEITORES [III]

Os Objectivos do Nosso Jornal



· Promover a imagem da Escola junto do meio envolvente.

· Estimular a criatividade discente.

· Iniciar os alunos nas técnicas de redacção jornalística.

· Contribuir para o debate interno de ideias.

· Divulgar as actividades e iniciativas escolares.

· Cultivar o gosto pela escrita e pela leitura.

· Reforçar o sentido de pertença à comunidade educativa.

· Fomentar o uso das novas tecnologias de informação e comunicação.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

AOS LEITORES [II]

A ideia de incluir um tema de capa em cada número do «Jornal dos Arcos» resultou da necessidade de lhe dar uma unidade orgânica susceptível de o tornar mais atractivo e útil para o leitor, cumprindo deste modo um objectivo central: promover o debate interno de ideias. Com efeito, o jornal, na sua qualidade de instrumento cívico, deve estimular a discussão de assuntos relevantes para a comunidade escolar e para a promoção de relações entre a escola e o meio envolvente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

AOS LEITORES [I]

O «Jornal dos Arcos» pretende ser, em primeiro lugar, um jornal dos alunos e para os alunos. Daí que tudo o que lhe diga substancialmente respeito não possa deixar de ter a marca da criatividade discente. Assim aconteceu, por exemplo, com a escolha do título do jornal e com a definição do grafismo do seu cabeçalho. Em segundo lugar, ninguém ignora a importância de um jornal para a concretização do projecto educativo de uma escola, em especial, do ensino secundário. A isto acrescenta-se o facto de ele ser indispensável para tornar visível o trabalho escolar junto do meio envolvente. Não se trata aqui naturalmente de propaganda, no mau sentido do termo, mas de um desígnio que almeja, em última instância, dar a conhecer o melhor de todos nós: alunos, professores e demais agentes da comunidade educativa.